A beira do rio Goiana existe um senhor de chapéu preto e com olhar meio baixo, mas que não demora muito para soltar o primeiro de muitos sorrisos, e que a cada sorriso nos mostra um pouco da sua história e um pouco da sua contribuição e representação para a cidade. Edvaldo Ramos, mais conhecido como mestre Val, ao longo dos seus 75 anos e sua vasta lembrança nos lembra que, aos 10 anos, viu de dentro de sua casa sair, pela última vez, um grupo de moças vestidas de preto, branco e vermelho, dançando ao som de uma percussão africana, relembrando a escravidão que, na época, ainda era muito recente na história daqueles negros.
Uma das maiores representações culturais não só de Goiana, mas como de Pernambuco, as “Pretinhas do Congo” todos os anos frequentam o carnaval de Goiana, mas que nem sempre foi assim, houve um tempo no qual as pretinhas foram esquecidas e só tinha restado a saudade da brincadeira. Perto dos 18 anos de idade, junto ao irmão Lenildo, Val “levantou” o bloco e no inicio tinha que vender seus próprios pertences para manter a cultura viva e assim estão até hoje. Goiana tem a honra de ser o único município de Pernambuco que mantém viva essa manifestação cultural. Mestre Val guarda em sua casa mais precisamente em sua sala figuras de imagens africanas misturadas com figuras da religião católica, e é lá em sua casa que muitas vezes vão procurá-lo para que, com sua mão e sua fé, traga de volta a saúde dos doentes.
“Nós somos pretos na cor Mas temos qualidade A pretinha de Goiana É antiga na cidade”